Quando a morte quase me adicionou no Facebook
"Cara%#@!" Foi o palavrão que gritei quando ouvi um estrondo, seguido de bola de fogo, no avião que ia do México ao Brasil. Era perto do Dia de Los Muertos (2 de Novembro) e eu estava indo a trabalho. Ainda estava claro e eu, concentradíssima, vendo o filme X-Men Apocalypse. Um passageiro começou a olhar para o outro com aquela cara de "Me diz que não vou morrer, por favor", enquanto as aeromoças corriam até a cabine sem entender o que tinha acontecido. Tem uma coisa que aprendi voando para tantos lugares: aeromoça correndo, putz… Não é bom sinal.
Ao contrário do que as pessoas costumam relatar, minha vida não passou na cabeça como um filme. Meu cérebro se dividiu em dois: o que achava que o avião ia cair e eu sobreviveria e o que achava que o avião cairia e eu iria pro saco. Então, metade dos neurônios estava tentando lembrar o que tinha na mochila que ajudasse na minha sobrevivência: barrinha de cereal, um mini canivete, um par de meias extras, lanterna que não precisa de pilhas e uma… Cristo! A bússola não estava! Eu havia dado de presente ao Rodrigo Almeida. Sim, sou dessas que sempre viaja com um kit de sobrevivência na selva, herança do Manual do Escoteiro Mirim.
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E pra piorar: o meu ursinho encardido estava no bagageiro, acima da poltrona e certamente não daria tempo de pegar enquanto o avião estivesse mergulhando na ilha de Lost ou sabe-se lá Deus onde. Pois é, tenho 55 anos e carrego um ursinho estropiado nas viagens, obviamente um objeto transicional que deveria ter ficado na infância, mas que por alguma rachadura emocional me acompanha até os dias de hoje dando uma sensação de segurança, a mesma sensação que eu sentia quando assistia, pequena, os filmes do Drácula, com Christopher Lee.
A parte dos neurônios mais pessimista ficou pensando se a empresa, onde eu estava prestando serviço, iria se encarregar do funeral, caso achassem meu corpo, e se eu deveria pular para a fila da direita, e sentar ao lado do cara boniton já que a hipótese de morrer sozinha no meio de uma fileira vazia parecia bem ruinzinha. Mas, 10 minutos depois (que pareciam aqueles filmes de Hamlet que nunca acabam), ficamos sabendo que um raio acertara o avião em cheio, mas que nada tinha acontecido graças a um físico inglês chamado Michael Faraday. Diz a lenda que ele teria colocado o filho recém-nascido numa gaiola metálica e dado uma descarga elétrica de milhares de volts, para provar que sua teoria de proteção de aviões estava certa. O menino saiu são e salvo. E eu também, graças ao Michaelzão.
Cheguei ao México meio mudada, tipo incorporando aquele chavão que diz que a gente começa a dar mais valor à vida… Bom, até cair matando em dois tacos mexicanos inundados de pimenta que aí, sim, a morte quase me adicionou no Facebook hahahaha.
Tamo junto no "a vida é breve, seja leve"?
#EnvelhecerSemPhotoshop
#EnvelhecerSemvergonha
#VigilantesDaAutoEstima
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