Tenho asma e meu nome virou “Grupo de Risco”
Tive minha primeira crise de asma aos 5 anos. É nessas horas que você vê o que sofre uma caçula de cinco irmãos, porque a crise começou quando dormi no que havia restado para mim: o colchão no tapete meio embolorado de um hotel no Rio. O peito começou a chiar como se eu tivesse engolido uma gataiada, o que fez minha irmã número 4 – a pisciana – chorar ao meu lado, coitada.
A segunda vez foi em uma pousada em São Tomé das Letras, em Minas Gerais. Eu tinha uns 20 anos e a pousada parecia um queijo gorgonzola, com mofo pra todo lado. Se não fosse meu namorado da época ter uma bomba de asma, eu estaria agora junto com os ETs que o povo diz que dão um rolezinho por lá.
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Ter asma é um pé no saco. Você nunca sabe o que starta. No meu caso, pode ser desde a morte da minha mãe ao missoshiro do restaurante japonês.
Nunca liguei muito pra ela. Tipo: jamais pensei que fosse morrer de asma, até a escritora Fernanda Young morrer de asma. Aí virou um "pega pá capá". Comecei a viajar com uma farmacinha maior que a mala, com tudo que era treco: bomba de ar, bomba de cápsulas, inalador portátil, não-portátil. E, sim, me recuso a turistar em lugares na casa do carai, cujo único hospital fica depois de subir e descer três montanhas.
Agora, no entanto, danou-se de vez. Com o corona, mudaram meu nome para "Grupo de Risco".
- "Não vá no velório do seu sobrinho [há duas semanas], você é grupo de risco!"
- "Grupo de risco vai vacinar primeiro contra a gripe"
- "Vamos devolver seu dinheiro pois entendemos que a senhora é grupo de risco e teve que vazar da Itália rapidinho" (Alitalia)
Pior que o medo de ter uma doença crônica é o pavor do povo me lembrando o tempo todo de que sou grupo de risco e que minha chance de morrer, se pegar corona, é a mesma de não ganhar na loteria. Outro dia tive asma de nervoso e não porque me entupi de ovos de Páscoa.
Calma, gente, vamos com calma. Agradeço a preocupação, mas o Universo é sábio e o destino, soberano. Estou me cuidado, quase usando um escafandro, e o que tiver que ser será. E, sim, parei de ouvir as tragédias diárias. Agora, só vejo bobagem na Netflix e vídeos de pessoas cantando na janela ou almoçando "junto", cada um em sua varanda, na Itália. Afinal, solidariedade e alegria continuam sendo coisas que jamais teremos medo de nos contagiar.
Tamos juntas?
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