E quando até sua beleza interior embaranga na pandemia?
"Sua sobrancelha é bonita…". Essa foi a única frase que ouvi da minha tia-avó freira que veio nos visitar depois de muito tempo e pediu para que eu tirasse o cabelo da cara para ver meu rosto. Eu devia ter uns 11 anos e naquele momento constatei o que já sabia: eu era feia!
Eu já tinha noção, porque tinha um desgramado de um professor de história no colégio que me chamava de "feiura", na hora da chamada. Tipo: "Francisco?" "Presente!" "Gilberto?" "Presente!" "Feiura?…" Pois é, bullying de professor na lata.
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Durante minha juventude, apesar de candidata ao "efeito sanfona" (engorda-emagrece), corri atrás do prejuízo e do tal padrão. Tinha um cabelo comprido e lindo (muita chapinha, claro!), praticava ioga e jiu-jítsu, tomava sol etc etc. Um dia, um professor me disse: "Cuidado com o que você vai fazer com essa beleza toda". Uau! Eu acabara de perceber que tinha ficado bonita.
Durante esses últimos oito anos, no meu terceiro casamento, engordei 10 quilos: muito trabalho, pizza, Netflix, sedentarismo… Aquilo que a gente já sabe. Também cortei o cabelo curtinho porque quis liberdade. Fui trabalhar no calorão do Congo dois meses e já estava de saco cheio de tanta escova e chapinha. Arre!
Sempre fui vaidosa. Investi em maquiagens legais, roupas e acessórios diferentes e voltei a caminhar. Bom, até vir a pandemia… Aí começou o pega pá capá: comecei a trabalhar até mais do que antes, parei as caminhadas, larguei as maquiagens, fiquei com preguiça de pintar o cabelo e percebi que estava dando uma relaxada boa.
O pior é que notei que o mesmo estava acontecendo com a minha beleza interior, porque essa quarentena deixa a gente tão zoada das ideias que já não tem mais certeza de nada. Dá uma desequilibrada na flora emocional, nos valores, em tudo. É porque, entre outras coisas, aumenta a raiva e dá muita vontade de esganar as pessoas que não estão nem aí para os outros, por exemplo.
Mas aconteceu um lance. Recebi uma chamada de vídeo do Rocco Iacopini – um italiano que eu gosto muito. Ele tem a casa de chá "Mago Merlino", em Florença, e estava no Marrocos para comprar especiarias. Só que o pessoal do Airbnb cancelou sua estada, e ele foi parar na casa que um amigo emprestou no deserto. Detalhe: sem nada ao redor. A única cidade estava a 20 quilômetros.
Ele me ligou para mostrar a maravilha da quietude do deserto, da simplicidade da casinha sem banheiro e com uma cama no chão, a alegria dos cachorros que viviam por lá e dos dois pássaros que dormiam no telhado da casa, à noite, junto com ele.
Quando desliguei, chorei. Chorei pelo inesperado da ligação e pela beleza da coisa toda.
E chorei pelo tempo que a gente perde se depreciando, encanando com peso, beleza, grana, relações ruins e a caralh**a toda, esquecendo da grandiosidade das coisas que são tão sagradas, como a natureza.
Não precisamos disso pra ser feliz, né? A ficha precisa cair. Se não hoje, na pandemia, quando?
Obrigada por ter vindo aqui. Te espero nos comentários. 🙂
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