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Gisela Rao

E quando até sua beleza interior embaranga na pandemia?

Gisela Rao

10/05/2020 04h00

Foto: www.freepik.com

"Sua sobrancelha é bonita…". Essa foi a única frase que ouvi da minha tia-avó freira que veio nos visitar depois de muito tempo e pediu para que eu tirasse o cabelo da cara para ver meu rosto. Eu devia ter uns 11 anos e naquele momento constatei o que já sabia: eu era feia!

Eu já tinha noção, porque tinha um desgramado de um professor de história no colégio que me chamava de "feiura", na hora da chamada. Tipo: "Francisco?" "Presente!" "Gilberto?" "Presente!" "Feiura?…" Pois é, bullying de professor na lata.

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Durante minha juventude, apesar de candidata ao "efeito sanfona" (engorda-emagrece), corri atrás do prejuízo e do tal padrão. Tinha um cabelo comprido e lindo (muita chapinha, claro!), praticava ioga e jiu-jítsu, tomava sol etc etc. Um dia, um professor me disse: "Cuidado com o que você vai fazer com essa beleza toda". Uau! Eu acabara de perceber que tinha ficado bonita.

Durante esses últimos oito anos, no meu terceiro casamento, engordei 10 quilos: muito trabalho, pizza, Netflix, sedentarismo… Aquilo que a gente já sabe. Também cortei o cabelo curtinho porque quis liberdade. Fui trabalhar no calorão do Congo dois meses e já estava de saco cheio de tanta escova e chapinha. Arre!

Sempre fui vaidosa. Investi em maquiagens legais, roupas e acessórios diferentes e voltei a caminhar. Bom, até vir a pandemia… Aí começou o pega pá capá: comecei a trabalhar até mais do que antes, parei as caminhadas, larguei as maquiagens, fiquei com preguiça de pintar o cabelo e percebi que estava dando uma relaxada boa.

O pior é que notei que o mesmo estava acontecendo com a minha beleza interior, porque essa quarentena deixa a gente tão zoada das ideias que já não tem mais certeza de nada. Dá uma desequilibrada na flora emocional, nos valores, em tudo. É porque, entre outras coisas, aumenta a raiva e dá muita vontade de esganar as pessoas que não estão nem aí para os outros, por exemplo.

Mas aconteceu um lance. Recebi uma chamada de vídeo do Rocco Iacopini – um italiano que eu gosto muito. Ele tem a casa de chá "Mago Merlino", em Florença, e estava no Marrocos para comprar especiarias. Só que o pessoal do Airbnb cancelou sua estada, e ele foi parar na casa que um amigo emprestou no deserto. Detalhe: sem nada ao redor. A única cidade estava a 20 quilômetros.

Ele me ligou para mostrar a maravilha da quietude do deserto, da simplicidade da casinha sem banheiro e com uma cama no chão, a alegria dos cachorros que viviam por lá e dos dois pássaros que dormiam no telhado da casa, à noite, junto com ele.

Quando desliguei, chorei. Chorei pelo inesperado da ligação e pela beleza da coisa toda.

E chorei pelo tempo que a gente perde se depreciando, encanando com peso, beleza, grana, relações ruins e a caralh**a toda, esquecendo da grandiosidade das coisas que são tão sagradas, como a natureza.

Não precisamos disso pra ser feliz, né? A ficha precisa cair. Se não hoje, na pandemia, quando?

Obrigada por ter vindo aqui. Te espero nos comentários. 🙂

#EnvelhecerSemPhotoshop #EnvelhecerSemVergonha #VigilantesDaAutoEstima

Insta: @giselarao50ehnois  Face: https://www.facebook.com/giselarao

Sobre a Autora

Gisela Rao é criadora e criatura de conteúdo, safra 64 – Ano do Dragão. Publicitária e escritora, é “porta-bandeira” dos temas sexo e autoestima, trazendo para a comissão de frente algumas das grandes pedras-no-scarpin femininas. Teve os programetes “Repórter Rao” e “A Monja e Emotiva” (UOL) e foi colaboradora das revistas e jornais: Folha de S.Paulo, Jornal da MTV, Época, Marie Claire, SPFW Journal, Isto É Gente, UMA, VIP, Bons Fluidos, Viagem & Turismo e TOP Destinos. É autora dos livros “Sex Shop”, “Tchau, Nestor” e ‘Não Comi, Não Rezei, mas Me Amei”. Opa! Não desligue ainda, tem mais: foi fundadora do Movimento Vigilantes da AutoEstima e uma das idealizadoras da ONG Estou Refugiado.

Sobre o Blog

A ideia desse blog é trazer um “Ufa!” para os perrengues da “classe” 50+: corpo, preconceitos, paúras, relacionamentos, medo de morrer, sexo... num tom divertido, autobiográfico e gente-como-a-gente. #EnvelhecerSemPhotoshop

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